sexta-feira, 27 de junho de 2008

Luz

A moça cai às portas do Batalhão. O soldado grita aos colegas. Oito mãos levantam a grávida em sincronia e deitam-na sobre a carroceria do veículo de guerra. Ela geme em febre de dor. As pedras esculpem o caminho como bruscas ondas em tempestade. Dirigem como se escalassem a rua. Os faróis deixam enxergar o hospital. Lá dentro, a escuridão aproxima os doentes da morte. As oito mãos constróem a maca da mãe iminente. A fraqueza do corpo contrasta com a força do olhar. Improvisa-se um leito. Chega o doutor sem título. As mãos buscam acender as velas do quarto sem luz. A criança nasce batizada pelas chamas. A barriga de montanha se transforma em gente. O grito do bebê acirra os sorrisos. Todos vêem como se jamais existisse o escuro.

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