quarta-feira, 4 de junho de 2008

Ausência

Passeia como fantasma. Entre tantos negros, a brancura doente. Eu sou mais uma a assustar-se com a imagem do menino albino. A ausência da cor pinta o rapaz. A mãe entende que pecou, recebendo castigo justo com o filho impuro. O sol toca a pele alva tatuando-lhe o câncer. A ferida lhe corrói, aos poucos, a pele, o músculo, os nervos. Morre, em breve, de dor. Ignora a proteção da camisa, dos óculos, do creme anti-raios-violeta. E ele insiste em querer expor-se ao dia, para apagar sua diferença, bronzeando-se com o pigmento da metástase. O filho da lua enxerga melhor à noite, quando sua cegueira diminui e é capaz de ver-se mais escuro. O corpo arde menos com a brisa do orvalho. Alegra-se.

Um comentário:

Júlio disse...

Nossa, que bonito os textos, tanto a ausência quanto o presente. Pude imaginar e quase vivenciar o escrito.
Beijos!